segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Dia em que saí de casa

Acho que saí de casa umas três vezes. Que eu lembre. Duas eu tenho certeza que foi meu pai me expulsando, mas eu acabava voltando por conta de minha mãe. Eu ainda era um adolescente e ela não ia me deixar dormir fora de casa. Digamos que tínhamos algumas diferenças e o negócio era de cima para baixo, é claro.

Depois dessas duas expulsões fiquei mais quieto e não quis mais sair. Bom. Não desta forma. Mas sim, como qualquer cara maior de 18 anos queria ter o meu canto, mas ainda não tinha dado o primeiro passo, aquele que o separa de vez das asas de proteção dos pais.

Quando entrei na faculdade de Letras, foi para cursar Inglês e ia muito bem obrigado, até que no 5º período houve uma oportunidade de intercâmbio e a UNIR iria receber alguns alunos da Espanha, pois na época tinha uma parceria com uma das universidades daquele país, que agora não me recordo qual. É evidente que me inscrevi e fui aprovado, sendo um dos alunos que receberia um aluno espanhol do curso de inglês que viria para se preparar para a monografia dele.

Não havia espaço em minha casa, somos quatro irmãos, mais os meus pais e só dois quartos, então eu me preparava para finalmente levantar vôo. Já tinha alugado um apartamento e comprado alguns móveis.

Jordi (era como se chamava o aluno Espanhol) chegou e provisoriamente ele ficou em casa alguns dias, talvez uns dois ou três, até eu conseguir fazer a mudança, pois no apartamento ficaria melhor para receber o aluno. Enquanto esteve em casa conversávamos muito em inglês, afinal era para isso que ele viera, para praticar, ensinar e aprender, e mesmo aprendendo os costumes brasileiros tudo era conversado na língua inglesa, o que para mim não era problema, considerando que eu era estudante de Língua Inglesa e falava fluente. Jordi falava muito pouco português e nesse caso era para se comunicar com o resto do pessoal da casa. E na época ele se afeiçoou pelo meu irmão caçula que deveria ter uns 10 ou 11 anos.

Acontece que quando eu preparava a mudança, eu tinha acabado de conhecer aquela que seria minha esposa e mãe de minha filha (atualmente ex) e em um final de semana para qualquer um esquecer, ou não, um dia dos Pais, deixei Jordi com meus pais e irmãos e fui para um passeio com minha então namorada e suas irmãs. Desse passeio voltei para casa três dias depois, com 17 pontos no rosto e uma dor quase insuportável. E a minha namorada voltou para casa no final do dia sem as duas irmãs. Na volta para casa sofremos um terrível acidente de carro, em uma carona casual, e como resultado teve a morte das duas irmãs de minha namorada e meu rosto quase desfigurado. Minha namorada nada sofreu.

Jordi, a meu pedido, foi para a casa de uma amiga da faculdade e lá ficou até o fim do semestre quando retornou para a Espanha. Meus planos de finalmente sair de casa e morar sozinho estava adiado por hora, mas finalmente, uns dois meses depois do acidente, finalmente eu me mudei e a partir daí morei sozinho, só saindo do apartamento quando casei, e aí é outra história.


Antonio Henrique Fernandes
Autor e Capitão deste Navio Errante.

18 comentários:

  1. Oiee ^^
    Eu ainda não sai de casa, isso porque ainda sou bem nova, mas espero ter meu próprio canto aos dezoito ou dezenove anos.
    MilkMilks
    http://shakedepalavras.blogspot.com.br

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    1. Oi Dryh, sair de casar é como uma libertação, mas apenas para questão de individualização. é bom ter seu próprio lugar, vc aprender a ter mais responsabilidades.
      bjs

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  2. Juro que quando li o titulo veio a musica do Zezé na cabeça kkkk mas enfim, olha eu admiro pessoas assim como vc que se torna independente, não sai de casa, mas ao mesmo tempo que quero fico com medo
    http://contodeumlivro.blogspot.com.br/

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    1. KKKKKK, admito, o título foi pensando na música. Medo todo mundo tem Brubs, o mais importante é dar o primeiro passo. depois é muito trabalho e aprendizado.
      bjs

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  3. Oie, tudo bom?
    Sair de casa é realmente um assunto bem delicado no Brasil, pois os jovens estão morando cada vez mais tempo com os pais. Para mim muitos tem medo dos gastos que uma pessoa tem morando sozinho.
    Beijos!
    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

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    1. Oi Aline,
      nos dias de hoje realmente é até mais prático ficar com os pais. muitos jovens estão na faculdade e ficam sem tempo para trabalhar, aí resolver ficar na casa dos pais. morar sozinho é muito bom, mas tem responsabilidades enormes.
      bjs

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  4. Olá!
    Quando li o título a primeira coisa que me veio na cabeça foi a música do Zezé...rs
    Eu ainda não sai de casa, tenho muita vontade, mas também um pouco de receio. Porém é uma experiência que eu quero passar.
    Beijos

    Li
    literalizandosonhos.blogspot.com.br

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    1. Oi Li,
      o título foi pensando na música mesmo. morar sozinho é uma baita experiencia, pois a gente aprende mais responsabilidades e a cuidar de si mesmo, sem depender de ninguem. é um passo para amadurecimento, mas nem todos pensam assim.
      bjs

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  5. Antonio,
    Já estava com saudades dos seus textos. Gosto de conhecer mais das suas experiências... Acho que somos muito diferentes um do outro e isso me diverte enquanto também me ensina. Nunca pensei em sair de casa, mas o fiz quando tinha 23 anos. Minha mãe não entende até hoje por que desejei sair para morar sozinha, mas assim como você precisava disso.

    Deve ter sido difícil para você sair duas vezes sob uma expulsão tão severa... :/

    Beijos!
    http://www.myqueenside.blogspot.com

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    1. Oi Fran,
      quando meu pai me expulsou as duas vezes eu ainda era adolescente, não sabia e nem tinha para onde ir, mas mesmo assim enfrentei as duas situações como adulto. voltei por causa da mãe, mas mesmo assim logo cultivei a ideia de morar sozinho. fato que aconteceu anos depois. ter o nosso próprio espaço é o maior sinal de liberdade, mas com ela vem responsabilidades. não é fácil. no final deu tudo certo.
      bjs

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  6. Oi, tudo bem?
    Realmente, sair de casa não é fácil, mas problemas familiares acabam incentivando essa decisão. Eu ainda moro na casa dos meus pais, mas às vezes sinto essa vontade de sair. Mas acabo ficando, não sei se por medo ou comodismo. Talvez um pouco dos dois
    beijos
    http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br/

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    1. oi Bruna,
      como vc disse, talvez pelos dois fatos. morar sozinho é um simbolo de liberdade, mas com ela vem muitas responsabilidades e gastos e isso é que acho que assusta muito as pessoas que querem sair e não o fazem.
      bjs

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  7. Eu sai de casa aos 18 anos e nunca mais voltei e não me arrependo, nossa liberdade não tem presso, é muito bom.

    bjs

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    1. Simeia,
      ter a nossa liberdade de qualquer coisa é realmente sem preço, e morar sozinho é uma dessas liberdades.
      bjs

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  8. Oiee, tudo bem?

    Bom, ainda moro com meus pais também. Nos mudamos recentemente e só de ver toda a burocracia e exigências que fazem para se alugar um apartamento, já me desmotiva. Sem contar que aqui no Rio o imóvel está cada vez mais caro. Pretendo sair de casa quando for me casar ou estiver perto de... =)

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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    1. Oi Kel,
      morar sozinho ou depois de casar é uma grande decisão, e já mostra o quanto queremos a liberdade de decidir por nossa própria vida.
      bjs

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  9. Somente saí de casa depois de ter casada, no começo ficamos na casa da minha, depois em uma casa só nossa, hoje depois de mudarmos de cidade e ficarmos quase um ano na casa da minha sogra novamente tenho uma casa só minha, rs. Acho que sair da casa dos pais é um marco para qualquer pessoa, não apenas para ter seu canto, mas para começar uma vida sua, com suas escolhas e consequências. Confesso, as vezes sinto falta de morar com meus irmãos e minha mãe, mas nada melhor do que um lugar só seu. :)

    Beijos.

    www.daimaginacaoaescrita.com

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    1. Oi Sammy,
      morar com os pais tem todo o aconchego, o amor, as brigas com os irmãos, mas como vc escreveu, nada melhor que um lugar só seu...
      bjs

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