sexta-feira, 31 de outubro de 2014

CONTO DE TERROR

O VOO FANTASMA

Alessandra estava atrasada para o voo. Isso nunca tinha acontecido, mas naquela noite seu namorado estava mais amoroso do que nas vezes anteriores. Evidente que resultou em uma noite muito quente.
Claro que as ausências dela por conta do seu emprego tinham a ver com esses encontros acalorados.
Alessandra sabia, desde pequena, o que seria quando crescesse. Uma aeromoça, ou comissária de voo como se chama hoje. Sempre brincou de avião e fazia suas maquiagens imitando uma aeromoça.
Fez o curso quando completou dezoito anos e agora tem 30 anos, e já percorreu o mundo inteiro e conheceu muita gente.
Infelizmente como viaja muito não tem tanto tempo para sua família e até mesmo para namorar. Namorados foram raros em todos esses anos voando pelo planeta.
Alguém pode perguntar por que ela não arrumou um namorado entre os colegas de trabalho. Por incrível que pareça ela nunca se interessou por colegas... Apenas uma vez namorou um co-piloto que era uma gracinha, segundo ela. O romance durou seis meses, ele foi para outra empresa de aviação e não se viram mais.
Seus pais que sempre reclamavam. Queriam que ela se casasse e tivesse filhos. Esperavam netos. Mas não era tão simples. Era um sonho de criança e estava vivenciando isso.
Nunca teve medo de voar. Mesmo com alguns acidentes que aconteceram com outras aeronaves isso não diminuiu sua paixão por aviões.
Era uma moça muito bonita e simpática. Querida por todos. Sempre tinha um sorriso franco e aberto.
As crianças que mais gostavam dela nos vôos. Sempre brincava e arrumava um brinquedinho para elas.
Somente uma vez ficou perturbada.
Ela estava escalada para o voo n. º JJ3054, que ia para São Paulo, mas por conta de uma gripe fora de hora acabou pedindo a uma colega que a substituísse. Não teve nenhuma dificuldade nisso, afinal era muito querida pelas colegas.
O problema foi que aconteceu uma tragédia. O voo que deveria estar e foi substituída por causa da doença acabou saindo da pista molhada quando aterrissava e explodiu ao bater no hangar da própria companhia. Não houve sobreviventes. 196 pessoas que estavam no avião e mais quatro pessoas que estavam no prédio morreram instantaneamente.
Alessandra ficou chocada e com um sentimento de culpa durante muito tempo. Afinal, era ela que deveria estar no avião, além de que todos os tripulantes eram seus amigos. Era uma sobrevivente, de certa forma.
Mas já se passaram alguns anos e ela retornou ao seu trabalho.
Hoje estava atrasada.
Ao chegar ao aeroporto foi direto para a sala de espera e não viu mais ninguém, com certeza já estavam no avião. E isso a fez correr pelos corredores do aeroporto. A porta estava já quase se fechando quando entrou. Tão rápido que não viu nem o rosto de sua colega que estava fechando a porta do avião. Agradeceu e foi para o seu local.
Como normalmente ela era a chefe da equipe, Alessandra tirou seu casaco e se posicionou de frente para os passageiros e começou a entoar a informação sobre o que fazer em caso de desastre, como utilizar o oxigênio e o que fazer em caso de queda, mostrando as saídas de emergências nas laterais, localizadas nas asas e nos fundos da aeronave.
Dito isso, pediu para colocarem os cintos que já iam decolar. Dirigiu-se então para o seu local onde se sentou e também colocou o cinto.
Tão cansada estava que não percebeu que ficou sozinha no local, onde normalmente ficam ao menos três comissárias.
O avião taxiou, se preparou para a decolagem e após o comandante fazer os avisos de praxe sobre cinto e aparelhos eletrônicos iniciou o procedimento de decolagem.
Atingiu a velocidade necessária e logo subiu aos céus.
Quando o avião atingiu a velocidade de cruzeiro, se levantou, e começou a preparar o lanche para os passageiros. Foi quando viu as suas amigas, no entanto, elas estavam com o rosto meio encoberto e nada falavam, apenas concordavam com acenos para Alessandra.
Ela achou estranho, mas continuou o que estava fazendo.
Quando ela se posicionou para entrar no corredor com o carrinho de lanche foi que ela prestou atenção pela primeira vez aos passageiros do voo.
Ninguém olhava para ela.
E pior ainda. Estavam meio transparentes. Impossível!
Mas, foi quando o comandante abriu o microfone para falar que Alessandra soube o que estava acontecendo.
- Aqui é o Comandante, estamos sobrevoando já em São Paulo e muito em breve pousaremos no Aeroporto de Congonhas. Estamos no Airbus A320, voo JJ3054 com destino a São Paulo. Um bom voo e aproveitem a sua estadia.
De repente Alessandra estancou e na mesma hora gelou. Um arrepio passou pela sua espinha e se instalou na nuca. Ela conhecia esse voo.
Ela estava no avião que bateu no próprio prédio e explodiu, após perder o controle na aterrissagem, por conta da pista molhada. Não houve sobreviventes.
Estava em uma aeronave fantasma...  Um voo fantasma.
E eles vieram buscá-la. Afinal ela fazia parte daquele voo e por causa de um impedimento o havia perdido, morrendo uma colega em seu lugar.
Agora não teve mais como impedir o destino. 
Alessandra nunca mais foi vista.



Antonio Henrique Fernandes Neto

Autor e Capitão deste Navio Errante.

32 comentários:

  1. Oh, my God!!! Tô chocada aqui... Esse conto teve um toque de "Premonição" - o filme. - Eu jamais imaginaria esse final... simplesmente surreal... Parabéns, Ricky! Conto perfeito para uma data perfeita =)

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    1. Obrigado Van...premonição foi a inspiração. mas o final foi bem diferente né... afinal ela deveria ter ido no dia.

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    2. Nossa, foi demais... adorei esse conto, foi um dos melhores do dia!

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  2. Antonio, você tem o dom da escrita! Este conto é incrível e tem um final surpreendente!
    Muito bom mesmo! Parabéns!

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    1. Obrigado Babi, não foi fácil, mas saiu o meu conto de terror e fico feliz que tenha gostado.
      bjs

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  3. Ai que louco isso. rs
    Parabéns pelo conto Antonio, mas fiquei com um frio na espinha aqui.
    Gosto as vezes de ler algo mais forte e seu texto veio em boa hora.

    Beijos
    www.amorliterario.com

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    1. Obrigado Fê, fico feliz que tenha gostado e que tenha se assustado um pouco hehehehe.
      bjs

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  4. Cruzes,que história é essa,ainda bem que sai dessa profissão e hoje sou só Agente Aeroportuário,fiquei com medo agora,hahahaha.
    ótimo texto apesar de assustador,hahaha.

    bjs

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    1. Olha só que coincidência Simeia, mas lembre-se que é apenas um conto... assusta, mas é só um conto hehehehe.
      bjs

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  5. Jesuis até arrepiou parabéns Antonio adorei e a forma como envolve o leitor é perfeita. Tadinha dela , mas a morte não pode ser enganada né rsss. abraços

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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    1. Pois é Joyce, não dá pra enganar a morte. ela sempre dá um jeitinho de conseguir o que quer. e obrigado pelo elogio.
      bjs

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  6. Parabéns pelo conto, Antonio! É curto, objetivo, mas consegue criar perfeitamente um clima de tensão e suspense.
    Bjos

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    1. Obrigado Ana, como era um texto curto minha preocupaçao era justamente conseguir criar um clima que causasse um desconforto. e que bom que gostou.
      bjs

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  7. Olha eu aqui!! Meu amigo só você pra me fazer ler um conto de terror, mas ó, eu amei ok?
    bjokas dessa sua fã-leitora.. ;)

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    1. Oi Tê,
      fico feliz que tenha gostado. e que bom que veio hehehehe
      bjs

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  8. Olá Antônio

    Cara, que conto sensacional! Confesso que me causou arrepios kkk
    Abraços

    estantejovem.blogspot.com.br

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    1. E aí Paulo Henrique,
      que bom que gostou, e que se arrepiou hehehehe
      um abraço

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  9. EEEEEU HEIN, Antonio!!!! :O
    Que medo desse seu texto, haha. Lembrou-me um pouco da série de filmes "Premonição", nos quais a morte acaba perseguindo quem devia ter morrido. Assustador! Coitada da Alessandra, mal pôde aproveitar a oportunidade que a vida tinha lhe dado.

    Beijos!
    http://www.myqueenside.blogspot.com

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    1. Oi Francine,
      Diferentemente da série Premonição, neste caso os que morreram voltaram só para levar ela que deveria estar junto. hehehehehe.
      bjs

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  10. Puxa vida Antonio!
    Adorei o conto!!!
    Tem mais?
    Vc conhece a editora Estronho?
    Ela sempre está a procura de contos assustadores para suas antologias!
    Certeza de que vão gostar!

    Beijokinhas!

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    1. Giane, esse foi especialmente para o dia das bruxas, mas posso providenciar mais. não conheço essa editora, mas vou dar uma procurada. e obrigado por ter gostado do conto.
      bjs

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  11. Coitada dessa Alessandra :O
    Quero mais contos assim, por favoooor *-*

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    1. Alessandra, fico muito feliz que tenha gostado deste conto, linda. Mais contos de terror? providenciarei.
      bjs

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  12. Ah! Antonio que medo. Eu hein!!!
    Você tem o dom da escrita e deveria publicar as suas produções. Tenho os seus textos e adorado, como sou tanto quanto medrosa, não gosto de terror. Mas, os contos de outros gêneros que ler com certeza.
    Parabéns pela produção que está um primor.

    Bjs
    Tânia Bueno
    www.facesdaleiturataniabueno.blogspot.com.br

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    1. Oi Tânia,
      obrigado, e estou pensando realmente em publicar meus contos. além desse de terror tenho mais dois contos completos. só clicar em CONTOS DE NAVEGANTES e poderá acompanhar todos eles.
      bjs

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  13. Boa noite,
    Como esta?
    Adorei *-*
    Prende bem a atenção do leitor do inicio ao fim...você tem talento,meus parabéns :)

    Abraços e desde já bom final de semana

    www.rimasdopreto.com

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    1. Olá Sandro,
      Obrigado pelo elogio. um ótimo final de semana.
      abraços

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  14. Conto legal!
    Paraben Antonio :D

    Abraços
    David Andrade
    http://www.olimpicoliterario.com/

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  15. Que tensão e suspense..... AMEI o conto,fiquei eletrizada até chegar ao fim,você escreve bem demais!!!! Me prendeu desde a primeira linha....

    bjsss

    Apaixonadas por Livros

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    1. Oi Biazinha, obrigado pelo elogio, minha preocupação era justamente em um texto curto prender o leitor e causar aquele arrepiozinho hehehehe.
      bjs

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