terça-feira, 8 de março de 2011

Um dia de plantão no Hospital João Paulo II

Certa vez, eu fui substituir um colega no plantão dele, no entanto, ao invés de trabalhar como escrivão, fui trabalhar como agente policial, pois o colega era um agente. O plantão começaria às 08 horas da manhã e ia até às 20 horas.
Peguei meu revólver calibre 38 e coloquei no coldre de axila e por cima coloquei uma jaqueta jeans sem mangas, que eu tinha e fui trabalhar. mal cheguei ao trabalho já fui designado para acompanhar um preso que estava no Hospital João Paulo II.
Durante o plantão noturno um policial civil havia trocado tiros com dois assaltantes e conseguiu atingir os dois, sendo que um deles fugiu e o outro foi hospitalizado. O policial nada sofreu. Lá fui eu então para cumprir meu expediente no hospital.
Lembro que era um final de semana e então o hospital estava cheio, com os médicos e enfermeiros trabalhando a todo vapor. Meu trabalho era tranqüilo, apenas vigiar o preso que estava algemado à cama. Ele já tinha sido operado e estava de repouso. como ele não tinha condições de fugir, naquele estado, de vez em quando eu dava umas voltas pelo hospital.
Um dos casos que observei foi de uma mulher que estava desesperada por causa de seu filhinho. O pobre do menino tinha uns dois anos de idade no máximo e estava brincando pelado, quando fez cocô, a mãe dele não o limpou nem o vestiu com uma cuequinha, e aí aconteceu a tragédia: um cachorro começou a lamber o menino e acabou por dar uma mordida no pintinho do mesmo, arrancando-o e engolindo-o em seguida. A mãe então viu aquela cena e ficou em estado de choque, o menino sangrando muito. Final da história, o menininho estava no hospital e fui submetido a uma cirurgia. Não faço idéia do que aconteceu depois.
Outro fato foi o de um vizinho que morava quase em frente à minha casa, um adolescente que dava um certo trabalho aos pais. Tinha sido vítima de gangue e levado tiro de chumbeira no peito. Graças ao Bom Deus e aos médicos de plantão ele foi operado e conseguiu se safar.
Já pelo final do plantão um colega policial deu entrada no pronto - socorro por ter sido vítima de acidente. Apesar da gravidade também conseguiu se safar.
Voltando ao preso que eu estava cuidando, depois que voltou a si começou a dar certo problema, mas nada que as enfermeiras não conseguissem cuidar. Porém, no meio da tarde familiares foram visitar o preso e o médico tinha proibido visitas, por ele ainda estar em observação e qualquer alteração ser ruim para ele. O cara exigiu ver a família, e conseguiu. Acontece que logo depois que os familiares foram embora, ele passou mal, muito mal e começaram a surgir complicações pós - operatório. Chamei os enfermeiros que viram o estado grave dele e chamaram o médico. O preso começou a ter paradas cardíacas e o médico começou a fazer o trabalho de ressuscitação, utilizando até mesmo o aparelho desfibrilador. Eu estava ali, pertinho e acompanhando tudo. Não teve jeito.
Vi o sujeito falecer na minha frente com o médico e enfermeiros tentando fazer ele voltar à vida. Imediatamente peguei o telefone e comuniquei ao delegado plantonista que registrou a ocorrência da morte, e ainda pediu que eu ficasse no posto, pois o outro (que era irmão do que morreu) havia sido capturado e estava sendo conduzido ao hospital, tendo em vista que tinha recebido um tiro na barriga, logo abaixo do umbigo. Não tive opção a não ser esperar.
Esse preso deu mais trabalho, porque era forte e não precisava ficar na cama, mas tinha que ficar o tempo todo algemado. Durante o tempo que fiquei cuidando dele, o preso só ficava falando que ia pegar o policial que tinha atirado nele e no irmão.
Fui sair do plantão no Hospital João Paulo II já por volta das 22 horas, quando finalmente o delegado plantonista (o outro já) mandou outros policiais me substituírem. Quanto ao preso, nunca mais o vi (ainda bem) e pelo que sei o policial que atirou nele ainda está vivo e bem vivo, trabalhando no interior.

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